Na terça-feira, 20/1, houve mais uma edição da série de seminários “Neoindustrialização em novas bases e apoio à inovação nas empresas”, coordenada por Fernando Peregrino, chefe de Gabinete da Finep, e que ajudará a embasar a próxima Conferência Nacional de CT&I, em junho. Os temas estão na pauta da Nova Política Industrial, lançada no dia 22/1 pelo presidente Lula, e que envolve cerca de R$ 300 bi, a participação de 21 ministérios, e uma nova relação entre governo e setor produtivo. A Finep participa com R$ 41 bi. Veja fotos do evento aqui.
Verena Barros (secretária-executiva do CNDI), falou remotamente – na abertura do evento – sobre a importância da Nova Política Industrial e como a relação entre conhecimento e setor produtivo precisa ser fomentada. O tema da mesa da manhã envolvia a relação entre universidade e indústria. “Aplicar o conhecimento de universidades no setor industrial é o caminho para que a inovação modifique a vida das pessoas”, destacou, sendo corroborada por Paulo Foina, da ABIPTI – um dos apoiadores do evento – que também cumprimentou os presentes de modo remoto. Anderson Gomes, coordenador-adjunto da V CNCTI e Pedro Rizzo (CGEE) complementaram as falas iniciais sobre “a urgência de aproximar conhecimento e a produção econômica”.
Componentes efetivos da mesa (real ou virtualmente), Celso Pansera, (presidente da Finep), Dácio Matheus (UFABC), Denise Pires (MEC), Mauricio Guedes (SEDEICS/RJ), Marcela Flores (ANPEI), Antonio Fernando (CONFIES), Fabio Guedes (FAPEAL) e Marcio Girão (Clube de Engenharia) se debruçaram sobre o tema – dito “prioritário” por Peregrino.
Pansera destacou que houve R$ 12 bi de demanda no ano passado, destacando o caminho vigoroso que a Finep tem pela frente, e que a empresa segue como o ponto de conexão entre Academia e setor privado. “Este tema é determinante para a vida dos nossos jovens. Há um descompasso entre o que se faz na universidade e a vida real, a inovação propriamente dia. Precisamos estar atentos”, alertou.
Presidente da Capes, Denise Pires afirmou que o Brasil tem “número muito baixo” de pessoas graduadas, mas o número de doutores é ainda menor – “cinco vezes menos que a média da OCDE”. Para ela, a correção desse quadro é ululante.
“Não há país que se desenvolva sem gente na universidade e mais: a universidade inserida nos ecossistemas de inovação”, disse, complementando que a famosa tripla hélice (urgente parceria de academia, setor produtivo e governo na produção de inovação) já pode ser pensada como quíntupla, envolvendo questões sociais e ambientais. “Estamos entre os 15 maiores produtores de artigos, mas falta que este valor gere impacto na vida das pessoas”.
Marcela Flores, líder da ANPEI, destacou que 20% do PIB brasileiro estão representados entre os associados. “Apesar de muito a percorrer, há avanços: contratos de transferência de tecnologia no Brasil eram de R$ 315 milhões em 2015. Em 2020, estavam em R$ 2,5 bi. Além disso, somos o país que mais investe em P&D na América Latina e Caribe”.
Por outro lado, a colaboração em pesquisas entre universidades e empresas, “é um show de horror”, qualificou. Em dez anos, o Brasil piorou em cerca de duas vezes a sua posição comparada a outros países. Alinhamento em nível nacional, estadual e municipal nas políticas de CT&I foi destacado como algo fundamental, assim como a compreensão, por parte dessas esferas, do Marco Legal de Inovação. “Obviamente, a desburocratização não pode ser esquecida e a sanha por parcerias e cooperação”, finalizou.
Dácio Matheus, reitor da UFABC, destacou o que classificou como “pontapé” da lógica da necessária visão acadêmica atual – ensino, pesquisa, extensão, inovação e internacionalização. “Em nossa estrutura de pós-graduação, o tema da inovação já é presente”, com mestrado e doutorado acadêmico industrial.
Para ele, é imperativa a vinculação da pesquisa em universidade com uma política de fomento orientada por missões, “não como mera ida do pesquisador a um balcão”. E completou: “a universidade e seu funcionamento como ambiente de insumo ao sistema de inovação precisa ter o estímulo proveniente das agências de modo estruturado”.
Marcio Girão, presidente do Clube de Engenharia e executivo da Finep, falou da engenharia e seu papel integrador na indústria. “Urge maior integração da ABC e da Academia Nacional de Engenharia, trazendo de volta o protagonismo da engenharia via suas associações”.
Girão destacou ainda que rotas tecnológicas precisam de estímulo no Brasil. “A ciência sem engenheira não gera inovação, logo não a transforma em riqueza”.
Antonio Fernando, do CONFIES, ressaltou que ciência e sociedade se encontram na universidade. Corroborando Girão, afirmou que as engenharias lideram o ranking de produção científica, o que sinaliza o impacto natural em qualquer ecossistema de inovação bem estruturado. “Não podemos nos esquecer que 90% da produção tem a ver com universidades públicas”.
Para ele, Fundações de Apoio são catalisadoras para que universidades encontrem espaço para transformar conhecimento científico em inovações propriamente ditas. “Neste processo ligado à Neoindustrialização, olhemos para a importância das Fundações”.
Mauricio Guedes (SEDEICS/RJ) lembrou as premissas da nova política industrial – incremento e exportação de produtos qualificados – e sinalizou que ela não pode estar desvinculada do conhecimento científico. “Nossa quantidade de pesquisadores por milhão de habitantes (700). É muito baixa”.
E completou: “lugar de pesquisador precisa ser na empresa, e os nossos estão apenas nas universidades. A cultura precisa mudar, não podemos formar apenas professores, mas pesquisadores que apliquem na prática o conhecimento produzido”.
No ranking dos 30 maiores depositantes de patentes do Brasil, 22 são universidades. No ranking dos EUA (com 100 instituições), há apenas uma universidade. “O ambiente acadêmico precisa perder o medo de ser feliz, ou seja, se relacionar diretamente com a indústria”, concluiu.
Fábio Guedes, da FAPEAL, disse que, depois da pandemia de COVID-19, a economia industrial é urgente. “Qual a universidade necessária na Neoindustrialização?”, questionou. “Nossa universidade, como disse Mauricio Guedes, precisa ser feliz. Os eixos universitários remontam 40 anos atrás e precisam estar conectados com as demandas atuais”.