SBPC e outras entidades preparam atividade para Dia Nacional da Ciência

Daqui a menos de um mês, no dia 16 de julho, será o Dia Nacional da Ciência e Dia Nacional do Pesquisador. Já nos preparativos, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em colaboração com entidades e instituições científicas do Rio de Janeiro, está organizando o evento “Domingo com Ciência na Quinta”.

São 75 anos da SBPC e 205 anos do Museu Nacional!

A Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro, será palco das atividades. Todas as instituições interessadas estão convidadas a participarem do evento e debater sobre a situação da CT&I no Brasil.

As inscrições estão abertas até 30 de junho. Segue o formulário de inscrição https://forms.gle/ke1bxfTSZ8YsQGfM6  aos grupos interessados nas atividades da nossa feira de ciências.

A atividade tem o apoio da Secretaria de Ciência e Tecnologia da Prefeitura do Rio de Janeiro  e contamos com a grata parceria da Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia na América Latina e no Caribe (RedePOP).

4 anos da ICTP.br

Uma inovação a serviço da Ciência e Educação Brasileira

Uma inovação a serviço da Ciência e Educação Brasileira

O ano era 2018 e a sociedade brasileira já sentia as consequências dramáticas dos contingenciamentos e cortes orçamentários e financeiros em várias áreas muito caras ao desenvolvimento social e econômico do país.

Eram reflexos de quando, em 2015, a tesoura do Ministério da Fazenda havia sido afiada para moldar a política de austeridade fiscal que jogou a economia brasileira na realidade de uma depressão. Para cumprir a missão foi convocado o economista Joaquim Levy, conhecido pela sua competência em entoar “cânticos” ao mercado financeiro. Sua gestão jogou a economia brasileira em uma crise ainda mais séria.

Quando estudante de economia, escutava muito um ditado entre os meus professores que sintetizava muito bem a diferença entre recessão e depressão: “quando seu vizinho fica desempregado por muito tempo tem-se uma recessão; quando ele e você estão desempregados trata-se de depressão”. E, de fato, a taxa de desemprego medida pelo IBGE passou de 6,6% no último trimestre de 2014 para 13,9% no primeiro trimestre de 2017.

O projeto intitulado Ponte para o Futuro, lançado pelo curto governo de Michel Temer, nos empurrou para o passado, pois várias de suas reformas, especialmente a trabalhista, somente acentuaram a queda da atividade econômica e precarizaram as relações de trabalho.

O financiamento público à educação e o fomento à ciência brasileira foram atingidos duramente. O contingenciamento orçamentário passou a ser uma prática comum aos Ministério da Educação e de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Com o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) não foi diferente. Mesmo tendo sido criado com o objetivo de financiar a inovação e o desenvolvimento científico e tecnológico com vistas em promover o desenvolvimento econômico e social do País, entre 2016 e 2022 deixaram de ser investidos R$ 25,3 bilhões do FNDCT, o equivalente a 90% de sua arrecadação. Somando esses recursos com os valores contingenciados no MCTI, CNPq e Capes, chegamos a algo em torno de R$ 95 bilhões que deixaram de ser aplicados no desenvolvimento da ciência brasileira. Não estão nessa trágica conta os valores que foram desviados das universidades e institutos federais aolongo do período.

Foi nesse contexto que em 08 de maio de 2019 oito importantes entidades nacionais lançaram, no plenário 13 da Câmara dos Deputados, a Iniciativa para a Ciência no Parlamento Brasileiro. A ICTP.Br é uma espécie de holding que hoje congrega a Academia Brasileira de Ciências (ABC), Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (Abruem), a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), o Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies), o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais para Assuntos de CT&I (Consecti), o Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas & Sustentáveis (Ibrachics) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

A ICTP.Br se constitui, assim, em uma inédita união formal entre as principais organizações da ciência brasileira. Uma coalização que, com harmonia, leva para o parlamento federal vozes das mais representativas da ciência brasileira.

Mesmo com o cenário muito adverso para a ciência brasileira, conquistas institucionais importantes foram alcançadas, tais como: a aprovação da Emenda Constitucional No 85, de 26.02.2015 que adicionou dispositivos na Constituição Federal para atualizar o tratamento das atividades de CT&I no país; a aprovação da Lei No 13.243, de 11.01.2016, o chamado Novo Marco Legal de CT&I, que aprimora as medidas de incentivo à inovação e a pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo; e a sanção presidencial, em 07.02.2018, do Decreto No 9.283, regulamentando o Novo Marco Legal.

Já sob a condução da ICTP.Br duas outras conquistas fundamentais foram frutos de muita luta e mobilização: i) a edição da Lei Complementar No 177, de 12.01.2021, que proíbe o contingenciamento dos recursos não-reembolsáveis do FNDCT que se destinam ao fomento à inovação e ao desenvolvimento científico e tecnológico, e ii) a aprovação no parlamento do Projeto de Lei No 01/2023, que reconstitui em R$ 4,1 bilhões o orçamento do FNDCT.

Em 2022, o principal desafio foi a coesão das entidades em torno da oposição ao governo Bolsonaro e suas investidas contra a ciência brasileira, retratadas na Medida Provisória 1.112/2022, apelidada de MP da Sucata, que instituía o Programa Renovar financiando-o com recursos destinados à Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no setor de petróleo e gás, e na Medida Provisória 1.136/2022, que contingenciava o FNDCT, ficando válida na LOA de 2023. Graças a Lei No 01/2023 isso foi revertido. Além dessas duas pautas centrais, foram várias as audiências públicas realizadas tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado Federal que a ICTP.Br teve participação ativa.
Essa lista de conquista não encerra a importância da ICTP.Br nesses últimos quatro anos. A sua história está em franca evolução e o aspecto mais importante dela é sua intransigente e organizada defesa de uma sociedade mais justa, democrática, desenvolvida e soberana no plano internacional.
Parabéns a todos e todas que ajudaram a construir essa institucionalidade.

Fábio Guedes Gomes
Secretário Executivo da ICTP.Br

Fundo para ciência deveria ser descentralizado para os Estados

Proposta foi apresentada em reunião da Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação da Câmara Federal.

Descentralizar o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), de modo a fortalecer as estruturas estaduais de fomento à ciência, tecnologia e inovação.

A proposta foi apresentada pelo economista Fábio Guedes Gomes, secretário executivo da Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento Brasileiro (ICTPBr), nesta quarta-feira, 03/05, durante reunião da Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação (CCTI) da Câmara Federal. O encontro debateu o tema “Aplicação de recursos pelos fundos de ciência e tecnologia”.

Sob a presidência da deputada Luisa Canziani (PSD-PR), a reunião contou com a participação do secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Luis Rebelo Fernandes, e de representantes de diversas entidades do sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação.

“Precisamos pensar em como fazer para que o FNDCT seja de fato mais nacional, a exemplo do que são o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, o Fundeb, e o Fundo Nacional da Saúde, o que permite que os recursos sejam descentralizados para os Estados, fortalecendo as estruturas locais de fomento à ciência, tecnologia e inovação”, sugeriu Gomes.

Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas e diretor regional do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) da Região Nordeste, o economista considera que a descentralização “daria ao FNDCT uma capilaridade maior, ampliaria nacionalmente a base política de apoio à ciência, tecnologia e inovação, e também traria à tona experiencias importantes que estão sendo feitas em vários Estados brasileiros no financiamento à inovação, à criação de empresas de base tecnológica e a iniciativas em educação e na popularização da ciência”.

Fernanda Sobral: perdas do FNDCT nos últimos 20 anos somam R$ 37 bilhões

Neste ano o orçamento do FNDCT ficará em torno de R$ 9 bilhões, totalmente gerido pelo governo federal por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

O secretário executivo da ICTPBr observa que todos os Estados contam com sua fundação de amparo à pesquisa (FAP), ou seja, ele diz, “já há uma estrutura descentralizada e operante, em nível nacional, para receber os recursos do FNDCT e aplicá-los em políticas de ciência, tecnologia e inovação mais identificadas com as realidades e necessidades locais”.

ICTP.br divulga Relatório 2022

As entidades que compõem a Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br) divulgou, neste dia 27 de fevereiro de 2023, o Relatório de 2022. O documento traz um balanço de todas as ações da coalizão. Confira o documento na íntegra aqui.

(Des)Governo Bolsonaro corta bolsas e compromete a formação de jovens profissionais e estudantes de pós-graduação

À medida que se aproxima o fim do (des)governo Bolsonaro, as surpresas desagradáveis não param de surgir, comprometendo uma série de políticas públicas estratégicas e essenciais para o país.

Ontem, a sociedade brasileira foi informada que o Ministério da Educação não conta com recursos orçamentários para honrar compromissos com vários programas importantes, como, por exemplo, o pagamento de 14 mil bolsas para jovens médicos residentes que realizam estágios em centenas de unidades hospitalares distribuídas por todo território nacional.

Veja aqui a nota emitida pelas entidades.

Artigo na Folha de S. Paulo: Da ciência básica ao desenvolvimento tecnológico

Esta coluna foi escrita para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência. Em julho, colunistas cedem seus espaços para refletir sobre o papel da ciência na reconstrução do Brasil. Quem escreve é Fábio Guedes Gomes, diretorpresidente da Fapeal (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas) e secretário executivo da Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento Brasileiro.

Os países que alcançaram a maturidade no desenvolvimento econômico e se firmaram no grupo hegemônico de poder internacional no século 20 não fizeram esse caminho sem um longo período de investimento em conhecimento científico. É responsabilidade da ciência desafiar a si mesma, compreendendo os fenômenos que cercam a sociedade e a natureza. Dessa forma uma nação consegue superar grandes dilemas ou problemas, se mostrando mais preparada diante de seus concorrentes no plano da competição intercapitalista.

Sem investimentos em ciência básica um país não conta com os conhecimentos que possibilitem a superação de desafios impostos pela dinâmica da natureza, da sociedade e da economia. Nesse sentido, ficam visíveis os desdobramentos que o desenvolvimento da ciência básica promove sobre as possibilidades de progresso das ciências aplicadas e avanços tecnológicos. O desenvolvimento econômico e o domínio tecnológico da Alemanha, por exemplo, têm relação direta com o conhecimento acumulado em setores como química, engenharia de motores, componentes elétricos e processos.

Os sucessivos contingenciamentos orçamentários e cortes financeiros da ciência brasileira, a partir de 2015, além de afetar a produção do conhecimento nacional e desmantelar sua estrutura – universidades e centros de pesquisa –, prejudicam o desenvolvimento tecnológico e empresarial, contribuindo com a baixa produtividade do país. A recente tentativa do governo federal em remanejar os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico interromperia programas públicos promissores de fomento à criação de empresas de base tecnológica e inovação industrial, como o Centelha, o Tecnova e os projetos da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial. Esses programas e estratégias têm o potencial de alimentar a cultura do empreendedorismo tecnológico e conectar o conhecimento técnico-científico produzido nas instituições universitárias e centros de pesquisa e desenvolvimento aos problemas de empresas e mercados.

Duas áreas, entre outras, se beneficiaram do alinhamento entre ciência básica e progresso tecnológica no Brasil: saúde e agricultura tropical. Na década de 1970, os estudos sobre a fixação biológica de nitrogênio, liderados pela pesquisadora Johanna Döbereiner na Embrapa, revolucionaram a produção agrícola brasileira. Nos anos 1990, a produção de insulina humana injetável a partir da insulina de porco, pela empresa Biobrás e com o apoio de bioquímicos da UFMG, coordenados pelos pesquisadores Marcos Luiz dos Mares Guia e Lewis Greens, revolucionou o tratamento da diabetes. Na mesma década, realizou-se pela primeira vez o sequenciamento genético da bactéria Xylella fastidiosa, causadora de uma temida praga nos laranjais, dentro do Projeto Genoma-Fapesp, abrindo largas possibilidades à área de biologia molecular.

Exemplos como esses, associando grandes desafios, ciência, tecnologia e inovação, apontam para a importância e a necessidade de contarmos com a sensibilidade de lideranças políticas, gestores públicos e parlamentares na defesa dos investimentos na ciência do país e em sua infraestrutura de pesquisa.

Fonte: Folha de S. Paulo

C,T&I precisam estar mais presentes no Parlamento, afirmam debatedores na SBPC

Reconstruir pontes, participar do processo de tomada de decisão e levar a política para as universidades e instituições de ciência e tecnologia. Esses foram alguns dos encaminhamentos ao final do painel “C,T&I no parlamento” realizado nesta quarta-feira (27) na 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece em Brasília. Entre as discussões acerca da atual política nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I), os painelistas apresentaram propostas para reverter o quadro de baixa atenção do governo federal ao setor.

Para o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e secretário-executivo da Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento Brasileiro (ICTP.Br), Fábio Guedes Gomes, o futuro da C,T&I está diretamente ligado às eleições de outubro. “É necessário que a gente eleja aqueles que têm compromisso com a ciência e a tecnologia, além de estreitarmos o relacionamento com os bons parlamentares tanto no Senado como na Câmara dos Deputados”, disse Guedes, que coordenou o painel e apresentou análises sobre o tema tratado.

De acordo com o presidente da Associação Nacional dos Docentes das Instituições Federais (Andifes) e reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marcus Vinicius David, também integrante do painel, as eleições são uma oportunidade para que a sociedade conheça o projeto de desenvolvimento da Nação defendido por cada candidato. “Valorizar projetos que tragam a C,T&I como eixo estratégico para o desenvolvimento é muito importante. Temos uma chance de entender o que será prioridade”, avaliou.

Durante sua apresentação, o secretário-executivo da ICTP.Br alertou ainda que é preciso difundir entre o meio acadêmico e científico os impactos das propostas discutidas no Congresso Nacional. É o caso, por exemplo, da MP 1.112/2022, que cria o Programa de Aumento da Produtividade da Frota Rodoviária no País. Apelidada de MP da Sucata, ela visa retirar de circulação veículos de carga com mais de 30 anos de uso.

“A medida é até meritória. O problema é que o governo quer financiar o programa com recursos que as empresas concessionárias que exploram poços de óleo e gás destinam a projetos de P,D&I”, alertou Guedes, ao defender uma mobilização do setor pela mudança do texto. “Há instituições de ciência e tecnologia que desenvolvem projetos com esses recursos e que não estavam sabendo do impacto que essa MP trará se for aprovada da maneira como está redigida”.

Entre 2019 e 2021, mais de 2,6 mil projetos foram contemplados com os recursos oriundos dos contratos entre a Agência Nacional do Petróleo e Gás e as empresas concessionárias. “Os recursos contemplaram 95 instituições de ciência e tecnologia de todo o país que desenvolvem projetos densos que podem levar o Brasil à fronteira do conhecimento não apenas no setor de petróleo e gás, mas também em áreas como energia renovável”, explicou Guedes.

Investimento e governança

A crise do setor de ciência e tecnologia também foi alvo de análise dos painelistas. O reitor da UFJF atribui os baixos investimentos em C,T&I à falta de uma política de desenvolvimento nacional. O atual modelo brasileiro, segundo ele, está focado na redução dos custos da mão de obra e na superação dos custos ambientais. “Esse modelo não é mais aplicado nas nações que estão na fronteira do conhecimento. A alternativa é construir uma política focada na base industrial responsável ambientalmente e que fortaleça a mão de obra”, avaliou. “O novo parlamento e o próximo presidente da República precisam mergulhar nesse projeto de Nação. Se tivermos clareza nesse caminho a ser trilhado, as estratégias de C&T começam a fazer mais sentido”.

Marcus Vinicius apontou ainda a necessidade de mudanças nos mecanismos investimentos e na política de governança do setor. Ele defendeu que a Emenda Constitucional 95, que estabeleceu o teto de gastos, seja revista. “Isso trouxe um estrago para todas as estruturas de Estado. As despesas obrigatórias, como é o caso do pagamento de pessoal, seguem aumentando. Isso tira o poder de investimento das instituições. Somado aos cortes e contingenciamentos, estamos vivendo a mais grave crise no financiamento da educação básica, da educação superior e da ciência e tecnologia, comprometendo o desenvolvimento da Nação”, lamentou.

O reitor avalia que deputados e senadores terão um grande desafio para dar fim à burocracia e garantir segurança jurídica na parceria entre a academia e o setor produtivo. “O Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia e a Política de Ciência e Tecnologia deverão ser novamente analisados. E neste momento será crucial construir um modelo onde todos os atores tenham um papel estratégico e equilibrado”.

Cortes e resistência no parlamento

Em vídeo gravado para o painel, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) destacou que senadores e deputados têm sido fortes aliados do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia. A parlamentar avaliou que o Brasil abriu mão do desenvolvimento e da soberania nacional ao menosprezar a ciência e aceitar o papel de exportador de commodities e importador de produtos de alto valor agregado.

“Temos uma biodiversidade que nos permite pensar em liderar o mercado de fármacos e um potencial enorme na geração de energia limpa, mas tudo que foi construído está sendo desmontado por um governo que não consegue conviver com a liberdade de pensar”, disse.

Em 12 de julho, lembrou Jandira, o Congresso Nacional deu uma demonstração de respeito e compromisso com a ciência brasileira. Por apenas 10 votos de diferença, 197 a 187, os parlamentares não aceitaram o texto original do PLN 17/2022, que extraía do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) R$ 2,5 bilhões para remanejá-los para outras áreas. A proposta do governo federal contrariava a Lei Complementar 177, que proíbe contingenciamento do principal fundo de apoio a projetos de pesquisa e desenvolvimento do País.

Para o secretário-executivo da ICTP.Br, a rejeição ao trecho do PLN 17 foi uma vitória importante para a comunidade científica, diante de tantas adversidades. “Estamos sendo sufocados em várias frentes. Há cortes nos repasses para as universidades, redução dos orçamentos dos ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovações e ataques frontais aos mecanismos de financiamento da pesquisa”, afirmou Fabio Guedes.

CCT debate nesta quinta-feira nova política de Ciência e Tecnologia

A Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) promoverá reunião nesta quinta-feira, dia 14, a partir das 11h, para debater a proposta de nova Política Nacional de Ciência e Tecnologia e a minuta de projeto de lei, que institui o novo Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia. A audiência pública foi solicitada pelo senador Jean Paul Prates (PT-RN).

O senador afirma que a CCT está na fase final de aprovação da proposta de nova política e da minuta de projeto de lei para o novo Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia. E explica que “a sociedade civil e os pesquisadores têm criticado a proposta por desconsiderar as conquistas que a ciência brasileira obteve nos últimos anos, a autonomia das universidades e instituições de pesquisa, a necessidade de investimentos contínuos para viabilização de uma política nacional à altura das necessidades brasileira e sobretudo o papel de cada Ente Federativo [União, estados, DF e municípios] na estruturação da proposta”. 

“Dada a relevância do tema, entendemos que a CCT do Senado é o espaço adequado para que as vozes que estão sendo ocultadas nos debates de construção da nova política e do novo sistema possam se expressar, assegurando, porém, o contraditório, com a presença do governo”, acrescentou o senador.

Confirmaram presença na reunião:

  • Secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, Sérgio Freitas de Almeida, 
  • Diretora da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Gianna Cardoso Sagazio, 
  • Presidente de Honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira,
  • Professor de Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e ex-ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Machado Rezende,
  • Presidente do Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais da Carreira de Gestão, Planejamento e Infraestrutura em Ciência e Tecnologia, Roberto Muniz
  • Secretário Executivo da Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br), Fábio Guedes Gomes

Fonte: Agência Senado

Congresso rejeita medida que bloqueava R$ 2,5 bilhões da Ciência

Samuel Fernandes

Um dispositivo que abriria brecha para o bloqueio e a transferência de mais de R$ 2,5 bilhões destinados ao financiamento científico do Brasil foi rejeitado nesta terça (12) em votação no Congresso Nacional.

A medida fazia parte do PLN (Projeto de Lei do Congresso Nacional) 17/22, que foi aprovado e será encaminhado para a sanção do presidente Jair Bolsonaro (PL). Porém, por 197 votos contra 187, os parlamentares decidiram retirar o trecho criticado por entidades científicas, que viam um ataque ao orçamento destinado para o setor.

Em junho, o Governo Federal bloqueou o valor de R$ 2,5 bilhões do orçamento previsto do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). O fundo foi criado em 1969 e é um importante mecanismo para financiar projetos de desenvolvimento científico e tecnológico.

Uma lei publicada em janeiro de 2021, no entanto, havia proibido o contingenciamento dos recursos do FNDCT. O trecho agora excluído da proposta visava dar segurança jurídica ao bloqueio do governo Bolsonaro por meio de um novo instrumento legislativo.

“Não tem base jurídica para manter esse bloqueio, então eventualmente isso seria desbloqueado”, afirma José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais).

O texto permitiria ainda que o orçamento do fundo pudesse ser utilizado para outros fins. Essa transferência, no entanto, não seria automática —seria necessária a edição de novos projetos de lei que disponibilizassem esse valor para outras ações que não aquelas ligadas ao fundo.

O atual congelamento de recursos e a possibilidade de aprovação da medida que prolongaria o contingenciamento preocupam entidades. No caso de Silva, a apreensão maior é com a continuidade dos projetos do CNPEM, centro onde se desenvolve o Sirius, um acelerador de partículas localizado em Campinas (SP).

O diretor explica que o acelerador envolve várias estações de trabalho que podem chegar a 38. No momento, o projeto encontra-se na fase 1 de desenvolvimento, em que deveriam funcionar 14 dessas estações, mas só seis estão operando. “O orçamento para a conclusão da fase 1 estava alocado dentro desses R$ 2,5 bilhões. Então o cancelamento dessa dotação impediria que o Sirius pudesse ser concluído“, afirma.

O presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência), Renato Janine Ribeiro, escreveu uma nota que repudiava o PLN 17. O texto foi ratificado por outras entidades científicas do país, como a ABC (Academia Brasileira de Ciências).

Para Ribeiro, a decisão do Congresso foi “uma vitória importante” para a comunidade científica. “Vamos continuar mobilizados em defesa da ciência, tecnologia e educação, mas hoje conseguimos uma vitória graças ao empenho da comunidade científica e a participação dos parlamentares comprometidos”, declarou.

Fábio Gomes, secretário executivo da ICTP (Iniciativa para Ciência e Tecnologia no Parlamento), diz que a rejeição ao trecho do PLN 17 foi uma salvação ao financiamento científico no Brasil. “A ciência, tecnologia e inovação brasileiras não podem mais recuar de seus investimentos porque há alguns anos que a ciência e a educação vêm perdendo recursos“, afirma. A organização atua junto ao Legislativo em prol do desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil.

Na votação desta terça, o deputado Carlos Henrique Gaguim (União-TO), relator que fez um parecer favorável ao PLN, afirmou que o projeto não retirava verba do fundo e que, se isso ocorresse, o governo tinha firmado um compromisso para recompor a verba, se fosse necessário.

Parlamentares contrários à medida rebateram. O deputado Afonso Florence (PT-BA) disse que, mesmo com a reposição posterior do valor retirado, o projeto teria impacto negativo por suspender editais e pesquisas financiados no momento pelo FNDCT.

Indicado pelo Palácio do Planalto para comentar a medida, o Ministério da Economia afirmou que o projeto de lei traria maior segurança jurídica ao FNDCT. O ministério também reiterou que a proposta está de acordo com as atribuições do Poder Executivo conforme a Constituição Federal.

Fonte: Folha de S. Paulo